sábado, 29 de dezembro de 2007

Conjunto de cartas para a rapariga que vive no prédio em frente ao meu


Carta 1

Penso que precisamos de falar, mas não tenho coragem para te abordar directamente. O que aconteceu a noite passada foi acidental, não era minha intenção ver-te a mudar de roupa através da janela do meu quarto. Calculo que o facto de estar nu, sem contar com as meias, e a segurar o meu pénis, pode ter parecido suspeito mas garanto que foi completamente inocente… estava apenas a tirar mais fotografias do meu membro para deixar na tua caixa de correio… sim, tenho sido eu o teu admirador secreto. A propósito, notei que tinhas um sinal debaixo do teu magnífico seio direito… é de nascença? Se não, é melhor ires ver um médico, com essas coisas nunca se sabe.

Com amor, R



Carta 2

É só para perguntar se recebeste a minha carta anterior… como não me respondeste… Já foste marcar consulta com o teu médico? Beijos.

Com amor, R.



Carta 3

Porque não respondes nada? Agora tens sempre as janelas e a luz da sala fechadas mas eu sei que estás em casa porque vejo-te chegar da escola todos os dias. PORQUE NÃO RESPONDES?

Com amor, R



Carta 4

Cheguei à conclusão que és tímida. Gosto disso numa mulher e não vejo porque deva ser um obstáculo para a nossa relação, tal como a diferença de idades.
Mas tenho estado preocupado contigo… estás doente? No outro dia quando fui ao teu lixo reparei que tinhas deitado fora algumas caixas de remédios para a gripe e também alguns calmantes… espero que esteja tudo bem com a tua saúde.

Com amor, R.



Carta 5

Vi-te a remexer no lixo hoje. Calculo que tenhas descoberto que estão a faltar os pensos higiénicos que deitaste fora. Passo a explicar: meti-os no nosso álbum de recordações, ao lado da madeixa de cabelo que cortei quando estavas a dormir e da pastilha elástica que deitaste fora em frente ao prédio no dia 20 de Maio de 2006. Assim teremos algo para mostrar aos nossos filhos.

Com amor, R.

P.S. – Gostas de “João” se for menino e de “Inês” se for menina?



Carta 6

Notei que mudaste a fechadura da tua porta. Ainda bem que és uma rapariga ajuizada e preocupada com a segurança… com o mundo que está lá fora… mas agradecia que para a próxima vez me avisasses.

Com amor, R.



Carta 7

Deixa-me colocar-te uma questão hipotética: se por acaso algum dia alguém te fizesse uma surpresa, te apanhasse na rua, te amordaçasse e vendasse e depois te prendesse no seu quarto, preferias ser amarrada à cama com corda ou com correntes? Hipoteticamente, claro…

Com amor, R.



Carta 8

Tenho boas notícias, amor. O meu psiquiatra diz que já não há necessidade para continuarmos com sessões, que nos últimos anos, desde aquele incidente desagradável, tenho tido melhorias incríveis. Estou tão orgulhoso!

Com amor, R



Carta 9

Ontem quando te observava no duche pela fechadura da porta da casa de banho (consegui duplicar a chave do teu apartamento, espero que não te importes), pareceu-me que o sinal debaixo do teu seio direito estava maior. Acho que é mesmo melhor ires ver disso ao médico.

Com amor, R.



Carta 10

Não aguento mais… tenho de te contar algo. Há já duas semanas que ando a espiar a tua vizinha do lado. Comecei a gostar mais de a espiar do que a ti, ela é tão mais madura, e acho que é melhor terminarmos. Tivemos algo muito especial, mas ela apareceu assim na minha vida e fiquei indefeso… terás sempre um lugar especial no meu coração, por favor não fiques ressentida comigo. Peço desculpa por te dar esta notícia na véspera do teu 18º aniversário, queria ter-te dado um presente melhor.

Espero que, mesmo assim, não te importes que eu de vez em quando vire os binóculos em direcção à janela do teu quarto…

Adeus,
Com amor, R

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